A Química na limpeza

O atual cenário preocupante da disseminação do vírus COVID-19 pelo mundo nos fez, como nunca antes, atentar para as práticas de higienização. Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado o coronavirus uma pandemia[1], algumas questões outrora consideradas pouco importantes foram colocadas em pauta, como por exemplo: “Realiza-se a limpeza com álcool, sabão ou desinfetante?”, “O álcool deve ser 70%?”, “Há a necessidade de ser em gel?”. Mas, antes de tudo, você já leu a nossa primeira postagem sobre o Coronavírus COVID-19? Lá, nós abordamos o surgimento, sintomas e as formas de prevenção deste vírus. 

A química está presente em tudo, na higienização não é diferente. Vamos então elucidar algumas dúvidas frequentes sobre este tema.

REALIZA-SE A LIMPEZA COM ÁLCOOL, SABÃO OU DESINFETANTE?

Quando falamos da higiene de nossas residências, o método mais seguro e eficaz, segundo o gerente de fiscalização do Conselho Regional de Química da 4º região (CRQ IV), Wagner Contrera, é com água e sabão. Não que o álcool não seja eficaz, mas, por ser uma substância inflamável, é necessário muito cuidado no seu manuseio evitando assim outros problemas[2]. Como a eficácia da limpeza com água e sabão é conhecida por todos, ela se torna a opção mais viável no âmbito residencial. No vídeo a seguir, temos o pronunciamento de Wagner Contrera a respeito das práticas higiênicas no canal do Conselho Federal de Química no Youtube.

HÁ DIFERENÇA ENTRE °INPM E °GL?

O álcool 70 °GL (grau Gay- Lussac) e 70 °INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas), apesar de parecerem a mesma coisa, possuem concentrações de álcool distintas. O álcool 70% e o 70 °GL podem ser considerados sinônimos, uma vez que indicam o percentual volumétrico em concentração aquosa. Portanto, tem-se que no álcool 70 °GL, faz presente 70% de álcool e 30% de água. Já o álcool 70 °INPM indica o percentual de massa em solução aquosa[3]

Como o álcool etílico possui densidade igual a 0,789 g/cm³, implica que a massa de álcool na solução de 70 °INPM é maior que a massa de álcool encontrada na solução de 70 °GL. Sabendo dessa diferença, podemos considerar que 70 °GL é aproximadamente 65° INPM, e 70 °INPM equivale aproximadamente a 77 °GL[4].

O ÁLCOOL DEVE SER 70%?

No que tange esse assunto, muitos questionamentos surgem principalmente sobre a eficiência do álcool 70%. Um deles é, como e porquê um álcool de concentração menor seria mais eficiente que o álcool 99,6%, que, usualmente, é a maior concentração obtida para esse produto.

Antes de qualquer coisa, é necessário compreender o significado químico do termo álcool. Álcool é uma classe de compostos orgânicos que possuem, em sua cadeia, o grupo hidroxila (-OH) ligado a carbonos saturados (carbonos que realizam apenas ligações simples)[5]. Dentro desta classe, temos alguns exemplos como o metanol, também conhecido como álcool metílico, que é extremamente tóxico, utilizado como combustível em alguns carros específicos; e o etanol (álcool etílico), o álcool mais comum, utilizado em bebidas alcoólicas e combustível.  

Como já mencionado, o álcool 70% possui uma certa porcentagem de água. A água, presente na composição, facilita a entrada do álcool na bactéria, e, quanto maior a percentagem de água, mais eficiente  é a desnaturação das proteínas. Portanto, sabendo que o grau de hidratação influencia na atividade antimicrobiana, o álcool 70%, por ser mais hidratado, é um bactericida mais eficaz do que o álcool 99,6%[3]

Outro ponto importante a ser abordado é que a quantidade de água presente no álcool 70% retarda a volatilização do álcool, permitindo maior tempo de contato. Do mesmo modo, quando utiliza-se o álcool 99,6% para desinfecção, por este possuir uma volatilização extremamente rápida, ocorre uma coagulação acelerada, onde não ocorre a penetração no interior da célula e, portanto, não elimina os micróbios[3].

HÁ A NECESSIDADE DE SER EM GEL?

O álcool em gel é utilizado como uma forma de prevenir os efeitos colaterais da desinfecção da pele com soluções alcoólicas, a sua utilização demasiada das mesmas leva a efeitos indesejados na pele como por exemplo o ressecamento e penetração na pele após contínua aplicação[6]. Também observou-se que a formulação em gel é ligeiramente mais efetiva que a comum, por ter uma evaporação um pouco mais lenta[6]. Logo, a dica que fica é: Quando for higienizar as mãos, prefira a formulação em gel pois será menos agressiva à sua pele e, caso for apenas uma desinfecção de superfícies, a formulação líquida a 70% é a mais recomendada, até porque é a mais barata.

COMO HIGIENIZAR AS MÃOS?

Segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a higienização das mãos é uma das melhores maneiras de prevenção do COVID-19[3]. O recomendado é lavar frequentemente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos, como mostra a instrução disponibilizada pela Anvisa (figura 1).

Figura 1: Higienização simples das mãos

Fonte: http://anvisa.gov.br/servicosaude/controle/higienizacao_simplesmao.pdf

COMO HIGIENIZAR OS MEUS EQUIPAMENTOS?

Vimos até agora que as medidas mais eficazes para prevenção contra o COVID-19 são, lavar as mãos com frequência, evitar tocar nos olhos, nariz e boca e evitar aglomeração de pessoas. Entretanto a higienização de equipamentos também é essencial para uma prevenção efetiva do vírus e pensando nisso, separamos algumas dicas de higienização de equipamentos e superfícies.

1. Desinfete ambientes com alta frequência, utilizando álcool 70%, água e sabão, desinfetantes ou limpadores multiuso (todos agem “quebrando” a barreira lipídica do vírus e invalidando sua capacidade infecciosa).

2. Utilize apenas produtos de limpeza regularizados pela ANVISA.

3. Ao sair de casa, mantenha seus objetos pessoais sempre higienizados.

4. Evite exageros. caso haja circulação de pessoas que continuam trabalhando fora ou atuam em áreas de risco, como hospitais, redobre seus cuidados higiênicos. Caso sua família esteja cumprindo o isolamento adequadamente não é necessário mudar sua rotina de limpeza.

REFERÊNCIAS

[1] World Health Organization. <https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19—11-march-2020>. Acesso em 14/04/2020.
[2] Conselho Federal de Química. <http://cfq.org.br/noticia/uso-do-alcool-gel-todo-cuidado-e-pouco/>. Acesso em 14/04/2020.
[3] Conselho Federal de Química. <http://cfq.org.br/noticia/nota-oficial-esclarecimentos-sobre-alcool-gel-caseiro-higienizacao-de-eletronicos-e-outros/>. Acesso em 14/04/2020.
[4] Eficácia da desinfecção com álcool 70% (p/v) de superfícies contaminadas sem limpeza prévia. <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21n2/pt_0104-1169-rlae-21-02-0618.pdf>. Acesso em 14/04/2020.
[5] IUPAC – Alcohols. <http://goldbook.iupac.org/terms/view/A00204>. Acesso em 14/04/2020.
[6] HIGIENE DAS MÂOS: Comparação da eficácia antimicrobiana do álcool – formulação gel e líquida – nas mãos com matéria orgânica <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7139/tde-17112006-095710/publico/Julia_Yaeko.pdf>. Acesso em 15/04/2020.
[7] Ministério da Saúde. <https://www.saude.gov.br/o-ministro/746-saude-de-a-a-z/46490-novo-coronavirus-o-que-e-causas-sintomas-tratamento-e-prevencao-3>. Acesso em 14/04/2020.

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